22 de fevereiro de 2013

ORIGEM DE TODAS AS HISTÓRIAS




Não é da minha natureza ocupar-me com histórias  passadas, agora, ocupar-me com a luz que as novelas dessas histórias produziram, isso é outra coisa, e uma coisa totalmente diferente.

Toda a expressão do Amor resulta da análise e síntese da luz produzida pelos esforços das entidades que atravessam as eternidades passadas em direção às eternidades futuras.E essa é uma travessia que faz parte da evolução da entidade Ser Humano.
   Sempre me interessei por todo o tipo de história que possa acrescentar luz em direção ao caminho da verdade.Talvez por isso, de quando em vez ,me sinta um pouco como Pi na sua Viagem; Órfã, flutuando na imensidão de um oceano repleto de forças desconhecidas onde outra coisa não resta fazer, senão , o tremendo esforço de ajustamento ao relacionamento possível com a natureza e o desconhecido , sobretudo com a partilha da barca da vida com o Richard Parker. (1)

Mesmo correndo o risco de se ser devorado ou estraçalhado pelo Richard  Parker ,  não é possível desistir dele. Ele apresenta-se como o propósito inafastável da existência, isto é, a aprendizagem do cuidar a convivência, ora alimentando, ora amestrando, ora partilhando e devolvendo desabafos de um mesmo destino, ora estabelecendo limites, ora respeitando, ora tolerando, ora protegendo e vigiando, ora amando mesmo não se sendo amado, ora aplicando e ajustando conhecimentos , assim ampliando  possibilidades  … Ao que parece, estes são os ingredientes que dão sentido à vida, à  luta para se manter vivo na autoconfiança segura do merecer existir.

E Já tenho tido alguns Richards Parkeres  , na  minha barca , mas  que na verdade são um só.


Falo destas coisas para  naturalmente, continuar aprofundar o reflectir e mais descobrir sobre os relacionamentos e o Relacionamento.

Ao que parece a chave  de arranque da vida para a existência como entidade é o Relacionamento . 

 Ultimamente tenho tido fortes suspeitas  de  que o Relacionamento é uma coisa inventada pelo Criador para se reinventar ou recriar a si mesmo.

Não sei de onde me vem esta ideia mas não me parece nova, nem decrepita; Cada vez que o Criador reinventa, a sua energia expande em direção aos desconhecidos, só não se sabe se  também dele mesmo ou se apenas  da sua criação,ou se de ambos.

A verdade é que o Ser Humano no meio do imenso oceano de uma infinita criação parece ser um núcleo preferido, alguém que é amado devido ao criador.

Sou Humana, ou também sou humana, no centro de uma criação de matéria crua dual e  na versão de uma energia típica de mulher.

Quando encarnei, cresci envolta da crença que nascera para Amar e Ser Amada, só que não recordava o como nem por quem. Entretanto, essa  espécie de amnésia e uma  força centrìfuga impulsionaram -me na procura do meu oposto.

Mas o meu oposto apresentava-se ausente da ideia e da imagem que então conseguia  fazer  dele. Um género muito parecido com a mulher mas totalmente ausente dela, e,  ao contrário do que me parecia lógico poder esperar, dificilmente se perspectivava  possibilidades de desfrutar  completude ou complementaridade . Antes, uma guerra fria, um jogo de manipulação e sedução inquietantes.

Apesar de muito parecidos e aparentemente complementares, homem e mulher nos seus relacionamentos mais pareciam duas linhas rectas em direção ao infinito com poucas esperanças de se encontrar.

Aparentemente falavam a mesma linguagem mas não se entendiam e quando cruzavam alguma linha de comunicação, ficavam sempre coisas por dizer, algo por realizar onde o  Virar  as costa  era  lugar-comum.

Naturalmente, ao longo da vida, esta foi uma questão que me intrigou; - o que é que separa homem e mulher?! E muitas outras se sucederam;  - Não é suposto terem nascido um do outro?! – Não seria mais lógico voltarem-se um  para o outro?! – Que coisa  mais incongruente?! - Onde é  que começa o fio desta historia?! -Terá sido uma história gerada ou criada?!

Com o tempo, descobri que existem muitas histórias, inúmeras explicações sobre a origem do homem e da mulher e sobre a origem da  separação. Mas, nenhuma dessas histórias foi o suficientemente convincente. Porém, todas tinham  pontos em comum.

Homem e mulher começaram por ser dois em um para mais tarde se desdobrar em dois, reproduzir e multiplicar.

Assim prosseguem as histórias do mundo conjugadas com as registadas na essência;

“O criador na sua infinita bondade criativa, cria o homem e tira a mulher de dentro do homem, assim dando expressão à ideia de criar à sua imagem: A mulher sai de dentro do homem e deste modo o homem daria à luz todos os filhos nascidos dela, incluindo o filho de Deus ou seja o próprio Deus ( quando chegasse a hora). 
Este é o Relacionamento Divino,  Circular: Tudo o que vem de Deus, volta a Deus, melhor está destinado a tornar-se Deus.

É bonita a visão  desta  finalidade de Trindade criadora; Deus – Homem/ mulher = filho ( onde Cada criança é uma lembrança de Deus, um potencial divino).

Mais bela ainda, é a ideia de que Deus deu-nos o sexo oposto para aprendermos sobre o seu Amor. Deu-nos pai /mãe/filho para experimentarmos o seu Amor.

Por isso homem e mulher deveriam experimentar o eterno Relacionamento com Deus, na submissão pelo de respeito, aceitação  e amor genuínos de uns para com os outros, incluindo Deus no circulo.



Porém aquilo a que assisti  desde a minha infância é  um Mundo dilacerado e afastado desse Relacionamento;

- O que é que terá acontecido para homem e mulher se tenham afastado?!

Ao que parece, e nisso as histórias também apresentam pontos em comum, a dada altura, no Éden, os seres humanos decidiram abandonar o relacionamento com Deus para afirmar a sua independência e para experimentar uma coisa chamada livre arbítrio, autonomamente. 

Segundo consta, o criador  dispondo da infinitude do seu Amor terá optado por não interferir na liberdade de consciência da sua criação e permitiu que ela passe-se a criar a ela mesma.

Essa declaração de independência levou a que o homem se virasse para si mesmo , para o Mundo e para o trabalho manual  concorrendo  com a natureza  na busca de identidade, do valor e da segurança através do suor do seu rosto. Optou por definir o que é bom e o que é mau e por procurar orientar o seu próprio destino através do esforço e do Ego.
 É claro que isto não correu bem e  ao que parece a humanidade foi expulsa do firmamento , o  gerou muito sofrimento, causou muita dor e, o pior de tudo, causou amnésia. Uma amnésia que  importou incontáveis anos de atraso do natural desenvolvimentos  (basta olhar para o mundo para o perceber).

 Tudo isto já vem muito lá de traz, desde o tempo em que as verdades iniciais foram esquecidas e as histórias  viraram mito e obrigou, mais à frente , a vários programas de  revisão  e ajustamento ao processo educativo inicial. Entretanto muitas interpretações e curvas nas interpretações foram dadas ao longo do decurso de muitas eras. Durante este tempo a mulher que no inicio, tal qual o homem, tinha uma relação directa com Deus passou a virar-se para o homem e a reacção do homem foi “dominá-la” e  assumir o “poder sobre ela”.
Assim geraram-se e ampliaram-se hábitos de manipulação, sedução, descriminação e abusos.


As mulheres esquecidas da sua função e lugar sagrados, de um modo geral, passaram a estar tão viradas para o homem que acabaram por achar ser difícil escapar-lhe ou deixa-lo entregue si mesmo e de parar de lhe fazer exigências de segurança, protecção e identidade (excepções excluídas).


Os homens ficaram tão virados para si e para o chão (= plano do Mundo) que passaram a não conseguir abdicar das coisas que constroem e dos seus esquemas de segurança, assim como da sensação da importância que os faz sentir grandiosos. Tornaram-se profundamente ligados às suas criações materiais e mentais.De tal modo ficaram , virados só para si que inventaram vários  Deuses  à sua imagem e  quando veneram Deus,  o que veneram é  uma imagem de si mesmos. Portanto, não reconhecem  nem vêem  o Amor de Deus e muito menos ponderam virar-se para ele (excepções excluídas).


O Relacionamento Homem / Mulher passou  a enfermar de uma doença reciproca  chamada separação  (de Deus e um do outro) de expressão antagonizante que só se curará quando ambos se revirarem para Deus.

Só quando se revirarem para Deus  é que poderão  voltar a reconhecer quem são e o que são ; parceiros iguais, face a face, cada qual diferente em género mas complementares, pois ambos estão destinados a receber o Poder Directamente de Deus de quem emana todo o Poder e Amor genuínos.

Então poderão  regressar ao Amor , receber e viver as Verdades da Existência até à Perfeição  com total desprendimento  dos Richards Parkers que ao longo dos tempos enfrentaram e alimentaram.

Na verdade aquilo que muitas vezes nos parece perigoso, insuportável ou uma limitação intransponível é quase sempre um convite a uma superação.

A entidade Humana tem sido,  ao que parece,  filha da superação.

O  filho de Deus é o resultado do trabalho de Deus com a natureza  na criação final do homem capaz de transcender a si mesmo e de se integrar, integrando a natureza.
 

O Relacionamento homem / Mulher surge, neste contexto, como necessidade de disseminação da espécie humana,mas também, como expressão do mais sagrado Alto sacrifício de Fidelidade ao Amor. Talvez por isso tentar explicá-lo em lugar de vivê-lo, seja apenas, uma futilidade necessária à compreensão de certa expressão de uma etapa do caminho. Tentar explicá-lo depois de vivê-lo é já  a síntese da análise própria de quem pegou na ponta do fio do novelo da existência e foi capaz de o enrolar. 

Seja como for, é tarefa iniludível unir final e  inicial com a consciência de que  só se chega ao fim do principio do novelo depois do revirar-se para Deus.

 Revirar-se para Deus não é tão fácil como o presumido.Que esta se torne a vitória da espécie humana , na certeza de que nada termina , apenas se desdobra em novas possibilidades de Existência.

Com a nova Luz do Amor.

            Rosa Maciel


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Nota .. Richard ParKer  é o nome de um personagem ( Tigre) do filme a Vida de PI que recomendo , pela beleza das imagens e da história. Para quem desconhece , poderemos dizer que Richard ParKer  , do nosso ponto de vista, simboliza as lições ou desafios  à adaptabilidade e amadurecimento  da Personalidade, isto é , a metáfora do programa  do relacionamento difícil ou impossível. Mas como se pode ver no filme, o impossível é um mito que ao homem compete superar, assim como muitos outros mitos , tabus e paixões que o acorrentam  aquém do paraíso.

Fica o cheirinho ao convite a visitarem o filme para quem ainda não o fez, claro. Para quem o viu não perderá nada em recordar. Na verdade o cinema é uma arte e todas as artes estão destinadas a despertar os códigos da consciência .



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