21 de outubro de 2006

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Tenho defendido a ideia de que todos deveríamos cultivar a atitude de escrever os nossos pensamentos, pois estou convicta de que este hábito constitui um guia eficaz no processo de auto-conhecimento e na descoberta do nosso sentido existencial.
Como só recomendo o que experimento segue-se um exemplo daquilo que pretendo dizer:

“A consciência é o último território desconhecido do saber humano e ao mesmo tempo a condição para que saibamos seja o que for. A consciência na qualidade de ponto central de referência da vida abarca a percepção, a memória, a imaginação, o sentimento, o estado de espírito e pensamento, assim como o conhecimento de todos eles “.

Quando criamos o hábito de nos escutarmos a nós mesmos e o de nos ouvirmos através da escrita dos nossos pensamentos, a simples leitura de uma frase como a anteriormente citada pode ter o condão de despertar um monologo ou dialogo interior como o que se segue:


Nunca me senti um ser enquadrado apesar de enquadrável.
Portadora de uma refinada elegância de alma e sensibilidade transbordantes, nasci e sobrevivi num meio que interiorizava como rude, grosseiro e hostil.
Vivenciando um permanente conflito interior , a introspecção foi uma ferramenta que desenvolvi e me tornou num privilegiado observador do pensador e do que me rodeava.
Hoje apercebo-me de que todo o meu passado foi um palco de experiências necessário ao desenvolvimento do meu actual estado de consciência e à minha actual capacidade de amar e vibrar num mundo que apesar de tudo continua a surpreender-me e a desafiar-
me.

Um desses surpreendentes desafios foi sem duvida o interiormente vivenciado no pretérito dia 22 de Julho no seminário de André Louro sobre ( Adam Kadmon )
Apraz-me descrever emoções e sentimentos mas como descrever o indizível?!
Poderei talvez e resumidamente descrevê-lo como uma sensação muito aproximada daquela que devemos viver quando nos sentimos projectados para um indecifrável movimento de vários saltos mortais sem qualquer medo de perigar o equilíbrio mas com o espanto próprio de quem ao reabrir os olhos se vê transfigurado .
Foi uma espécie de voo em direcção à alma, mesmo depois de a ter encontrado. De repente dou comigo a casar visões cósmicas com o que me foi sucedendo no quotidiano desde o mês de gosto de 1997 e uma espécie de puzzle começou a completar-se. Um novo estádio de consciência esboçava-me o seu sorriso.

Acolhi muitas e novas sensações mas fui incapaz de falar delas com claridade até ao dia de hoje. Ficara aturdida com a minha nova percepção e o reeditar de um novo modelo de crenças. Pressentia o despertar de vários desafios a cumprir pois intuía ter ainda muito a aprender e que uma espécie de cerco começara a apertar-se.
Além do mais estava cansada e desgastada por um ano de muito trabalho e mudanças.

Fluí , deixei-me fluir na vibração da confiança no processo da vida. Era inícios de verão, uma excelente oportunidade para desfrutar do mar , da montanha e da natureza.
Permeou-me um merecido descanso de guerreiro.
Deparei, mais à frente com algumas metáforas de guerra que me desafiaram a focalizar-me na paz e no reaprender o não julgamento. Foi um percurso curto mas intenso, e hoje dia 17 de Outubro de 2006 estou aqui a celebrar aquilo que sempre fui, a síntese de um ser de amor nas vestes de um guerreiro.

Pretenderei talvez presentear-me, com mais uma viagem interior e oferece-la como testemunho daquilo que aprendo e ensino pois a vivência foi e será sempre, para mim, a fonte mais fidedigna de transmissão das verdades essenciais. E como dessas não há que temer, passo transcrever um pouco do que vivi:

“ Não sei ainda explicar muito bem o que aconteceu naquela conferencia de sábado, dia 22 de Julho de 2006. Na pendência senti emergir uma urgência em falar com o conferencista . Foi um clique, como se uma espécie de botão estivesse a ser fortemente premido na minha consciência e no meu coração ao ouvir a frase “ não sei o que se está a passar no Porto, estou acelerado”.
Sei apenas que senti uma vibração muito forte a partir do meu centro que me fez verbalizar em surdina “- Tenho que falar com ele, ele tem que saber”.
“Mas o quê?.”
O gatilho da minha memória disparou então aquela visão ocorrida há mais de um ano:
A palavra herdeira, o olho, a voz, a hesitação, a advertência.
O esplendor da cor e das formas holográficas, o sentido de inclusividade, a sensação de ascensão, de integração no todo, o milésimo de hesitação, e num pestanejar, a tristeza da separação. A Voz telepática “Rosa isso é medo”. A Resposta melancólica
“- Não, eu não quero ter medo.” O ver regredir todo aquele esplendor de cor ,formas e luz a um único ponto. Um ponto de luz branca que também acabou por desaparecer.
A sensação final de paz e contentamento numa , nunca antes vivida, forma de gratidão.
A ressonância das frases “ Rosa a herdeira que tem um tributo a pagar!”,
“ Rosa a herdeira que não se lembra de nenhuma herança!”
Aquele acontecimento ininteligível no passado, revelava-se agora uma espécie de código imprescindível no decifrar e incorporar do conhecimento transmitido naquela tão peculiar conferência.
Várias Sincronicidades desfilaram na tela da minha mente bombardeando-me com revelações assombrosas
Mas, no final da conferência já tinha perdido a coragem de falar. Pensava em ir-me embora mas Nicole , a doce Nicole que ouvira o meu sussurrar em surdina questionou-me: “ Então não vais falar com o André? Vai lá que eu espero.”
Senti que era a voz de um anjo a compelir-me para o destino. Acedi. Porém ,quando comecei a falar, senti-me confusa, estranha e até ridícula. A magia parecia ter desaparecido e a lucidez perdia-se. Afinal do que é que eu estava a falar?!
-Duma visão? Dum sonho? Duma iniciação? Da minha mudança radical? Das minhas resistências à mudança? Das minhas cautelas em relação à verborreia espiritual, ao seguidismo e ao facilitismo? Das minhas crenças? Da minha incontornável resistência em me entregar aos mestres encarnados? Da minha dificuldade em pedir ajuda? Da minha necessidade em ser autentica.?
Não sei, talvez tenha falado de tudo aquilo sem a percepção de qualquer articulação lógica do raciocínio.
Algo em mim parecia pretender irromper e estender-se mas não consegui sequer discernir o que é que pretendia de facto comunicar ou saber. Talvez algo demasiado profundo e subtil. Algo para além da minha actual capacidade de entendimento. Mas alguma coisa me sussurrava”- ele sabe", "Ele compreende”.
Não obtive respostas concretas mas confiei. Senti a empatia e confiei.
Confiei e é tudo.

Nos dias seguintes estabeleceu-se a necessidade de recolhimento e silêncio. Adivinhava que estava próximo o romper com alguns limites. Escrevi alguns destes desabafos em papéis soltos. Esqueci-os por um tempo.
Desenhei uma frase que acabei por editar no meu Blogue : “ Independentemente de tudo o que possas sentir ou pensar a teu respeito ou a respeito do mundo nunca duvides de ti Rosa, nunca duvides de ti.” Não sabia o porquê mas sentia a firme convicção de que iria precisar muito da sabedoria nela encerrada. Eu e quem me rodeava.

Durante todo o mês de Agosto senti a latência de um chamamento enigmático para um trabalho e processamento interior profundos . Uma espécie de preparação para uma batalha, uma guerra , uma crise, eu sei lá….uma viagem, o ultrapassar de uma fronteira ou barreira……… “ Confia”era o comando que ressoava.
Como entretanto aprendera que todo e qualquer conflito é mera oportunidade de aprendizagem, deixara de atribuir qualquer importância à forma e a qualquer poder ou força exteriores a mim mesma , serenei e confiei mas fiquei atenta aos sincronismos.
No mês de Setembro sinais exteriores de guerra começaram a revelar-se , primeiramente indecifráveis. A ambiguidade e complexidade das situações e personagens baralhavam-me mas não tardou ver-me envolvida numa teia de ilusões de medo e ansiedade a um nível até então imperceptível.
Vislumbrei que o actual desafio prendia-se a mais uma Escolha , desta vez ao nível do colectivo e que passaria por largar os velhos hábitos de reprimir emoções e sentimentos desagradáveis bem como o de evitar lidar com as situações complexas e dolorosas ao nível grupal.
Ainda não o sabia mas era chegada a hora de crescer em maturidade emocional e de enfrentar algumas das minhas sombras reveladas naquilo que eu apreendia como misérias do outro.
Meus Deus, ali estava eu a viver uma situação que me parecia não ser nova : Provocação , manipulação e perseguição. Nada me parecera mais fácil do que encolher os ombros e dizer –“ não tenho nada a ver com isto. Estou em paz e não me interessa guerrear.”Acho que ainda o cheguei a verbalizar.
Porém um monologo interior falou mais alto:” Isto é Karmico. - Se esta situação está no teu caminho é porque tens algo para aprender sobre as tuas sombras . Talvez preciosos ensinamentos sobre a compaixão e a honestidade. Não lhe vires as costas. Vive-a com tranquilidade isso permitirá que vejas para além das aparências.. Basta que te mantenhas fiel ás tuas vibrações amorosas . Fala o que sentes e o que pensas sem criar expectativas ou impor condições. Aceita as consequências e desmonta toda e qualquer necessidade de atacar ou de construir estratégias de defesa. Segue o teu coração e confia. Trava a tentação de julgar o outro ou de vingar o passado. Elas vão surgir pois vais ser confrontada com ataques pessoais mas esses ataques só terão o poder que tu lhes deres. Só contra-atacarás na medida em que cederes o teu poder. Vira-te para o teu centro. O teu poder interior é sábio e seguro. Nunca duvides dele. Confia. Trabalha o Desapego. Lembra-te que só se pode servir a um senhor e tu escolheste o amor. O ego, o teu grandioso ego vai mais uma vez dar provas da sua força mas tu és muito mais forte .Por isso Rosa nunca duvides de ti. Nunca duvides de ti.”


Ancorada num profundo amor e confiança em mim mesma, permiti-me adentrar pelo nevoeiro dos conflitos, da manipulação e das agressões veladas e verifiquei que não obstante a confusão e a dor por eles geradas, estava rodeada de seres que amam e que tal como eu anseiam pela paz e pela cura.
Senti o conforto e a gratidão de não estar só no caminho da descoberta das sombras e ilusões que nos desviam do fluxo do amor e mais um vez confiei.
Desta vez é mesmo diferente, o grande mestre da ilusão, quem quer que ele seja, está a perder o poder de manipular e controlar através das suas criações de medo.
Não adiei o confronto e recebi-o de peito aberto. Disse os nãos que tinha a dizer, expus as minhas emoções e opiniões, pedi os esclarecimentos a que sentia ter direito enquanto colhi lições valiosas sobre a imagem que faço de mim mesma junto dos que me são afins e dos que se me opõem.
Quando o nevoeiro levantou verifiquei que tinha apenas um único opositor. Um único, mas capaz de destilar o veneno suficiente para inquinar um sem numero de pessoas. Constatei que esse veneno nasce no ódio por si mesmo e que tem várias formas e processos de contágio subtis. Mas também presenciei a actuação do seu antídoto. O amor é sem duvida muito mais poderoso.

Ainda não sei, como esta novela vai terminar mas o resultado deixou de ser importante pois comecei a perceber que a beleza e a bondade essenciais do grande plano para a vida neste planeta consistem no alinhamento das nossas vibrações interiores com a expressão do amor incondicional. E isto só é possível quando agimos de acordo com a nossa consciência.
Posso afirmar que nesta experiência consegui libertar e processar emoções e sentimentos profundos que estavam presos e acumulados no meu corpo emocional e libertei algumas questões de um passado de que não chego a ter memória.
Mas a maior de todas as lições apreendidas foi uma das lições de vida há muito ensinada pelo Mestre Inesquecível ( Jesus) - a fidelidade à nossa consciência:
“ Não podemos ser controlados pelo que os outros pensam e dizem de nós. Ser gentil, sim, mas esconder-se nunca. O homem que é infiel à sua própria consciência jamais salda a divida consigo mesmo “ (1).

Acresce que ganhei uma maior e mais considerável clareza emocional e mental que me permitem ampliar os níveis de contentamento e paz interiores e o discernir verdades profundas sobre mim mesma.
A titulo de exemplo refira-se que ainda hoje ao acordar, os primeiros pensamentos que tive inspiraram-me parte do significado da ressonância das duas frases “ Rosa a herdeira que tem um tributo a pagar”, “Rosa a herdeira que não se lembra de nenhuma herança.”
A herança é o medo. Eu herdei o medo da humanidade.
“ Rosa a herdeira que não se lembra de nenhuma herança “ Significa a inconsciência que eu tinha do medo, mas sobretudo , a ignorância do valor e do papel determinantes que ele ocupa no domínio das nossas crenças e por isso nos nossos pensamentos.”
O medo é a causa da separação ou pelo menos aquilo que nos mantém presos na ideia de que estamos separados e divididos e impotentes .
A dualidade, está na mente dividida entre dois pólos que se excluem; Medo / Amor.
Por isso é que a aprendizado do curso em milagres enfatiza que todas as escolhas resumem-se a uma só. MEDO ou AMOR.
Todos os caminhos de regresso à Totalidade e à inclusividade resumem-se na prática uma única escolha - a opção pelo amor.
O livre arbítrio significa a margem total , o espaço total para exercer essa escolha.
A função da humanidade é criar harmonia mas a harmonia só existe fora do medo.
A harmonia acontece à medida que nos voltamos para o dentro.
“ Rosa , a herdeira que tem um tributo a pagar”.
O tributo a pagar é aprender e ensinar o caminho que nos liberta e afasta do medo.
O Caminho para dentro de si mesmo.
“ Ensina só amor porque tu és amor” (2)

Então posso dizer que todas estas lições foram uma espécie de revisão das lições anteriores para tornar mais clara na minha mente e coração a direcção do meu propósito nesta vida--------- O Caminho da Ascensão.


Obrigado André.
Obrigado a todos os que cruzam o meu caminho.


NOTAS:
(1) (cfr. Augusto Cury in O Mestre Inesquecìvel,p 134).
(2) Curso em Milagres

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