Reflectir sobre a crise não é nada que seja novo, o que nos revela que muito se encontra, ainda, por fazer.
Já em 1948 *Krishnamurti* a ela se referia.
Atentemos pois na actualidade das suas palavras mais de meio seculo depois.
A evolução da humanidade conheceu, de facto, uma forte aceleração a partir de meados do Seculo XX, no entanto, deixa clara a Condição de que :
" Uma Verdade só se fixa na Mente, somente se ela for repetida mais de mil vezes."
Abraço de Rosa.
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A IMPORTÂNCIA DA CRISE *
A maioria de nós acha-se numa crise - por causa da guerra, por causa de
um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos
crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos, quer o
admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de
ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançada a bomba?
Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento,
politicamente, psicologicamente, economicamente. Há intensa pressão a
todas as horas; e não será este o momento de investigar? Não estaremos
num momento desses? Se dizeis "Não estou em crise, estou apenas
observando a vida tranquilamente" isso é simples maneira de evitar o
problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por
certo. Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança,
indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em que não sabemos enfrentar
as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou
devemos investigar e descobrir a verdade contida no problema?
A maioria de nós enfrenta uma crise com angústia; cansamo-nos e dizemos:
"Quereis ter a bondade de resolver este problema?" Quando falamos,
procuramos uma solução e não a compreensão do problema. De modo idêntico
quando tratamos da questão da reencarnação, do problema se há ou não há
continuidade, do que entendemos por continuidade, do que entendemos por
morte: para compreendermos tal problema, o problema da continuidade ou
não continuidade, não deve buscar uma solução fora do problema.
Precisamos compreender o próprio problema -
A minha tese é que há necessidade de confiança em nós mesmos - e já
expliquei suficientemente o que entendo por confiança em nós mesmos. Não
é a confiança decorrente da capacidade técnica do conhecimento técnico,
da preparação técnica. A confiança que nasce do autoconhecimento é
inteiramente diferente da confiança da agressividade e da capacidade
técnica; e aquela confiança nascida do autoconhecimento é essencial para
dissiparmos a confusão em que vivemos. É bem óbvio que não podeis obter
esse autoconhecimento por intermédio de outra pessoa, porque o que vos é
dado por outro é mera técnica. Aquela confiança criadora em que há a
alegria de descobrir, o êxtase de compreender, só pode nascer quando eu
compreendo a mim mesmo, o processo total de mim mesmo; e o compreender a
nós mesmos não constitui empresa tão complexa, podemos começar em
qualquer nível da consciência. Mas (…)
para termos essa confiança é necessária a intenção de conhecermos a nós
mesmos. Nesse caso, não me deixo facilmente persuadir: desejo conhecer
tudo o que há em mim e, assim, estou aberto para toda informação
relativa a mim mesmo, quer provenha de outra pessoa, quer provenha do
meu próprio interior. Estou aberto para o consciente e para o
inconsciente, no meu interior, aberto para todo pensamento e todo
sentimento, em constante movimento dentro em mim, urgindo, surgindo e
desaparecendo. Certamente, essa é a maneira de possuirmos aquela
confiança: conhecer a nós mesmos, exactamente como somos, e não visarmos
a um ideal daquilo que deveríamos ser, ou presumir que somos isso ou
aquilo, o que é de fato absurdo. É absurdo porque, em tal caso, estamos
apenas a aceitar uma ideia preconcebida, quer nossa, quer de outrem, do
que somos ou do que gostaríamos de ser. Para compreenderdes a vós
mesmos, assim como sois, precisais estar voluntariamente abertos,
espontaneamente acessíveis a todas as suas próprias solicitações, a
todos os impulsos do vosso ego. E começando a compreender o fluxo, o
movimento, a rapidez da vossa própria mente, vereis como dessa
compreensão nasce a confiança. Não é a confiança agressiva, brutal,
assertiva, mas a confiança do saber o que se passa em nós mesmos. Sem
essa confiança, por certo, não podemos dissipar a confusão; e sem
dissiparmos a confusão que existe em nós e ao redor de nós, como
poderemos achar a verdade concernente a qualquer relação?
Nessas condições, para descobrir o que é verdadeiro, ou qual é a
finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa à reencarnação ou a
qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que
deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certo de suas
intenções. Se estas consistem em procurar a segurança, o conforto, então
e bem evidente que ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser
uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o
conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, protecção, um
refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem
de, abrir a porta às perturbações, às tribulações; porque só nos
momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, acção. Só então
aquilo que /é/ pode ser descoberto e compreendido."
*Krishnamurti* - Bangalore - Índia - 18 de julho de 1948.
Do livro: Novo Acesso à Vida
A maioria de nós acha-se numa crise - por causa da guerra, por causa de
um emprego, por causa da fuga de nossa esposa com outro homem... Temos
crises ao redor de nós e dentro em nós, a todos os momentos, quer o
admitamos, quer não; e não é este o momento de investigar, em vez de
ficarmos à espera do momento derradeiro, em que seja lançada a bomba?
Porque, embora o neguemos, estamos sempre em crise, momento por momento,
politicamente, psicologicamente, economicamente. Há intensa pressão a
todas as horas; e não será este o momento de investigar? Não estaremos
num momento desses? Se dizeis "Não estou em crise, estou apenas
observando a vida tranquilamente" isso é simples maneira de evitar o
problema, não achais? Haverá alguém de nós nesta situação? Ninguém, por
certo. Temos crises sucessivas, mas estamos insensíveis, em segurança,
indiferentes; e o nosso obstáculo consiste em que não sabemos enfrentar
as crises, não é verdade? Devemos enfrentá-las cheios de angústia, ou
devemos investigar e descobrir a verdade contida no problema?
A maioria de nós enfrenta uma crise com angústia; cansamo-nos e dizemos:
"Quereis ter a bondade de resolver este problema?" Quando falamos,
procuramos uma solução e não a compreensão do problema. De modo idêntico
quando tratamos da questão da reencarnação, do problema se há ou não há
continuidade, do que entendemos por continuidade, do que entendemos por
morte: para compreendermos tal problema, o problema da continuidade ou
não continuidade, não deve buscar uma solução fora do problema.
Precisamos compreender o próprio problema -
A minha tese é que há necessidade de confiança em nós mesmos - e já
expliquei suficientemente o que entendo por confiança em nós mesmos. Não
é a confiança decorrente da capacidade técnica do conhecimento técnico,
da preparação técnica. A confiança que nasce do autoconhecimento é
inteiramente diferente da confiança da agressividade e da capacidade
técnica; e aquela confiança nascida do autoconhecimento é essencial para
dissiparmos a confusão em que vivemos. É bem óbvio que não podeis obter
esse autoconhecimento por intermédio de outra pessoa, porque o que vos é
dado por outro é mera técnica. Aquela confiança criadora em que há a
alegria de descobrir, o êxtase de compreender, só pode nascer quando eu
compreendo a mim mesmo, o processo total de mim mesmo; e o compreender a
nós mesmos não constitui empresa tão complexa, podemos começar em
qualquer nível da consciência. Mas (…)
para termos essa confiança é necessária a intenção de conhecermos a nós
mesmos. Nesse caso, não me deixo facilmente persuadir: desejo conhecer
tudo o que há em mim e, assim, estou aberto para toda informação
relativa a mim mesmo, quer provenha de outra pessoa, quer provenha do
meu próprio interior. Estou aberto para o consciente e para o
inconsciente, no meu interior, aberto para todo pensamento e todo
sentimento, em constante movimento dentro em mim, urgindo, surgindo e
desaparecendo. Certamente, essa é a maneira de possuirmos aquela
confiança: conhecer a nós mesmos, exactamente como somos, e não visarmos
a um ideal daquilo que deveríamos ser, ou presumir que somos isso ou
aquilo, o que é de fato absurdo. É absurdo porque, em tal caso, estamos
apenas a aceitar uma ideia preconcebida, quer nossa, quer de outrem, do
que somos ou do que gostaríamos de ser. Para compreenderdes a vós
mesmos, assim como sois, precisais estar voluntariamente abertos,
espontaneamente acessíveis a todas as suas próprias solicitações, a
todos os impulsos do vosso ego. E começando a compreender o fluxo, o
movimento, a rapidez da vossa própria mente, vereis como dessa
compreensão nasce a confiança. Não é a confiança agressiva, brutal,
assertiva, mas a confiança do saber o que se passa em nós mesmos. Sem
essa confiança, por certo, não podemos dissipar a confusão; e sem
dissiparmos a confusão que existe em nós e ao redor de nós, como
poderemos achar a verdade concernente a qualquer relação?
Nessas condições, para descobrir o que é verdadeiro, ou qual é a
finalidade da vida, ou para achar a verdade relativa à reencarnação ou a
qualquer problema humano, aquele que investiga, que busca a verdade, que
deseja conhecer a verdade, precisa estar absolutamente certo de suas
intenções. Se estas consistem em procurar a segurança, o conforto, então
e bem evidente que ele não deseja a verdade; porque a verdade pode ser
uma das coisas mais devastadoras e desconfortáveis. O homem que busca o
conforto, não deseja a verdade: deseja apenas segurança, protecção, um
refúgio onde não seja perturbado. Já o homem que busca a verdade, tem
de, abrir a porta às perturbações, às tribulações; porque só nos
momentos de crise há o estado de alerta, há vigilância, acção. Só então
aquilo que /é/ pode ser descoberto e compreendido."
*Krishnamurti* - Bangalore - Índia - 18 de julho de 1948.
Do livro: Novo Acesso à Vida